Entrevista publicada orinalmente no portal de Notícias Petrolina1
Jornalista Binícius Gonçalves durante oseminário Comunicação Para qu | ê |
Como funciona a comunicação popular no território do Sertão do São Francisco?
No território Sertão do São Francisco, que compreende dez municípios, cidades do norte da Bahia que ficam em volta de Juazeiro, que é cidade central, a comunicação popular e comunitária sempre foi forte, desde a época da ditadura militar quando foi necessário criar mecanismos de comunicação alternativa. Então começaram a surgir os jornais de bairro e jornais de movimento social. E tivemos uma atuação muito forte no rádio, principalmente com o setor de comunicação criado pela Diocese de Juazeiro pelo Bispo Dom José Rodrigues, que criou uma rede de correspondentes populares. O que seria essa comunicação popular no Sertão do São Francisco? Uma comunicação voltada para a luta do povo, para levar, divulgar as informações, os fatos, as notícias que a grande mídia na maioria das vezes não divulgava por serem notícias do povo, já que a grande mídia sempre teve como principal mecanismo a divulgação daquilo que interessa a elite do país.
Petrolina1: Qual a sua avaliação da comunicação que temos no Vale do São Francisco hoje?
Nós, de uma certa maneira, somos até privilegiados. A comunicação profissional do Vale do São Francisco é muito boa, comparada a outras regiões do país, não deixamos a desejar. A comunicação popular, por sua vez, ela é muito forte. Temos movimentos sociais, sindicatos, movimentos de luta pela terra, que tem feito trabalhos de comunicação popular. Um dos exemplos mais clássicos, que a gente sempre lembra, são as rádios comunitárias, que tem feito um trabalho muito importante. Temos a Curaçá FM, a Zabelê FM em Remanso, rádios que tem feito um bom trabalho de cidadania, de prestação de serviços. Agora, nossa comunicação ainda está muito longe daquilo que a gente deseja. Hoje a comunicação é vista meramente como algo técnico e nossa visão, principalmente a luta que o Fórum pela Democratização da Comunicação no Território Sertão do São Francisco tem trazido é de que a comunicação precisa ser vista como um direito humano, não apenas como uma ferramenta, como um meio de transmissão de mensagens. Todo nós temos direito a comunicar, a se expressar, a dizer o que a gente pensa, os nossos males, aquilo que a gente está sentindo.
Como você vê o interesse do crescimento da procura por profissionais de comunicação pelo terceiro setor?
Hoje o terceiro setor, que no caso é a sociedade civil e são representadas por ONGs, sindicatos, associações, e outras entidades, sempre fez comunicação popular, sempre existiram jornais comunitários, jornais de sindicatos. Mas hoje, a comunicação está muito avançada do ponto de vista tecnológico, isso exige muito de um profissional. Se o comunicador for apenas militante, e não tiver uma mínima formação técnica, ele não vai conseguir se inserir hoje. Então, isso levou, forçou o terceiro setor a investir em comunicação. Por isso, muitos profissionais, inclusive pessoas que saíram da faculdade, estão atuando no terceiro setor, é o meu caso. Trabalho com comunicação popular. Atualmente estou na Cáritas Diocesanas de Rui Barbosa (BA), fazendo comunicação popular. A gente atua contribuindo com as rádios comunitárias na formação. Nosso objetivo, nossa missão, é fazer com que os vários direitos humanos sejam garantidos, ou ao menos as pessoas saibam que tem um direito para que tenham condição mínima de lutar por seus direitos: o direito a terra, o direito à água, à educação de qualidade, e isso inclui também o direito à comunicação.
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