domingo, 17 de março de 2013

Crônica - Sonho adormecido e uma realidade frustrante.


Crônica dedicada a todos os militantes do Sertão do São Francisco, em especial aos amigos que encontrei no MAB, gente que acorda cedo e vai à luta.


Era um dia ensolarado, brincava no meu quarto com meu irmão quando escutei minha mãe chegando em casa:

- Margarida, Joaquim! Trouxe lanche pra vocês...

Descemos a escada e enquanto saboreávamos deliciosos pasteis mamãe conversava com papai:


- Hoje a Lúcia estava convidando todos na padaria para o encontro nacional de mulheres do Mab neste final semana. – Falou a mamãe.

- Pois é, não sei se você lembra mas tenho uma reunião com a diretoria da empresa em Salvador. Indagou o papai.

- Como faremos com as crianças? Perguntou mamãe.

- Já que o encontro é na cidade você cuida da casa no final de semana e eu levo as crianças comigo.

Assim estava decidido, que iriamos viajar para Salvador, e isso me deixou bastante feliz. Tinhamos um lar agradável, adorávamos quando papai fazia feijoadas aos domingos e mamãe aproveitava para disputar os jogos do vídeo game conosco. Em casa nossas idéias e decisões eram ouvidas, papai era tão atencioso que chagava até a anotar minhas ilusões, e sempre, nas sextas-feiras, levava-me às aulas de violão, que eu, aluna dedicada, arriscava algumas notas das músicas de Caetano.

Quimquim, como eu chamava carinhosamente meu irmão, adorava rodopiar pela casa diariamente. Sonhava que, quando crescesse, ele seria um famoso bailarino, tão quanto seu grande ídolo: Foundatale.

De repente, me vi no espelho, usava calças longas, e meu cabelo, oh, meu cabelo era tão curtinho... era uma menina sem pinturas nenhuma no rosto, mas possuía um brilho nos olhos invejável, coisas de quem vive bem, vive uma vida...

TRIIIIIM TRIIIIIMTRIIIIIM (O som do despertador tocou compulsivamente).

Droga! Hora de acordar. Olhei rapidamente para o meu corpo, não vi mais aquela pele infantil, minhas pernas estavam enormes, bem maiores que as do sonho. Levantei e comecei a arrumar a casa, começando pela sala, depois da bagunça deixada por Cláudio, meu esposo, e seus amigos na noite anterior. E depois, as mesmas tarefas diárias, pratos, banheiro... e o almoço de Cláudio, é claro. Ao término disso corri para tomar um banho bem depressa estava atrasada, arrumei-me para ir trabalhar, e ao sair de casa lembrei de que deveria ir no banco antes de ir pro trabalho. Desistir não dava mais tempo, na esquina ao visualizar meu reflexo imaginando uma possível perca perda de peso vi que não lembrara de pentear os cabelos, mas já era tarde, como ele era curto, resolvi não me preocupar pois penteado ou não ele continuaria a mesma coisa.

À noite, já deitada, com dificuldades de dormir devido ao ronco constante de Cláudio, me lembrei do sonho que tive na noite anterior e também dos meus tempos de militância, quando acreditava que jamais aceitaria me submeter a um marido e a esse sistema opressor, que me obrigasse a assumir as atividades domésticas sem reclamar meus direitos.

Continuei ali, acordada refletindo sobre o porquê de muitas mulheres como eu abrirem mão das lutas pelas suas famílias... Seria o Amor? Influência de familiares? Casamento? Não, acho que Comodismo! Hum, será mesmo? sei não, acho melhor deixar isso pra depois, amanhã vou ter que acordar cedo, levar o cachorro pra vacinar, marca a consulta médica e fazer o café para Claudio...

Adriel Duarte, Curaçá-Ba. – Membro do Fórum de Comunicação/MAB.

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