Samuel Pinheiro Guimarães - Foto: Roberto Parizotti |
“O controle dos meios de comunicação é essencial para o
domínio da classe hegemônica mundial. Como esses meios são formuladores
ideológicos, servem para a elaboração de conceitos, para levar sua posição e
visão de mundo. Daí a razão da democratização da mídia ser uma questão
prioritária”, afirmou o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães no debate “O
Brasil frente aos grandes desafios mundiais”, realizado na terça-feira (16) na
Universidade Federal do ABC. Ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos
(2009-2010) e ex-secretário geral do Itamaraty (2003-2009) no governo do
presidente Lula, o embaixador defendeu a campanha do Fórum Nacional pela
Democratização da Comunicação (FNDC) por um novo marco regulatório para o
setor. Segundo ele, uma relevante contribuição à democracia e à própria
soberania nacional, diante da intensa disputa política e ideológica numa
“economia profundamente penetrada pelo capital internacional”.
Entre as iniciativas para garantir o surgimento e
estabelecimento de novas mídias, apontou, está a “distribuição das verbas
publicitárias do governo”, desconcentrando os recursos públicos e repartindo de
forma justa e plural. “O critério de audiência, que vem sendo utilizado,
privilegia o monopólio e o oligopólio”, sublinhou.
O embaixador também condenou o fato de que um mesmo grupo
possa deter emissoras de rádio e televisão, jornais e revistas – a chamada
propriedade cruzada. Conforme Samuel, esta concentração acaba concedendo um
poder completamente desmedido para alguns poucos divulgarem as suas opiniões
como verdade absoluta. “Quando Estados como a Argentina, o Equador e a
Venezuela aprovam leis para democratizar a comunicação, a mídia responde com
uma campanha extraordinária, como se isso fosse censura à imprensa”, lembrou.
Manipulação
Em função dos interesses da classe dominante, alertou o
embaixador, a mídia hegemônica pode, sem qualquer conexão com a realidade,
“demonstrar que um regime político da maioria é uma ditadura e realizar
campanhas sistemáticas que permitam uma intervenção externa, com o argumento
que determinado governo oprime os direitos humanos”. “Podem inclusive se
aproveitar de manifestações pacíficas para infiltrar agentes provocadores que
estimulem o confronto”, alertou.
Uma vez criado o caldo de cultura, soma-se à campanha de
difamação e manipulação das consciências a intervenção militar, como aconteceu
contra o governo de Muamar Kadafi. “Na Líbia houve a derrubada de um governo
que lhes era contrário, não foi ação defensiva dos direitos humanos em hipótese
nenhuma”, frisou. Na avaliação de Samuel, “os Estados Unidos têm um projeto
muito claro de manter o seu controle militar e informativo”, que utilizam de
forma alternada e complementar. “Contra os governos que contrariam frontalmente
os seus interesses, os EUA têm um uma política declarada de ‘mudança de
regime’. Para isso, sem grandes embaraços, qualquer movimento pode ser
instrumentalizado”, assinalou.
Entre os muitos exemplos de manipulação citados pelo
embaixador está o “esforço da política neoliberal para reduzir direitos”,
utilizando-se da campanha pelo “aumento da competitividade”. ”O receituário que
defendem é o de reduzir programas sociais, controle orçamentário e reduzir os
benefícios da legislação trabalhista. Para isso disseminam ideias como a de que
as empresas nacionais não são produtivas”, destacou Samuel.
Também condenando a manipulação da informação e o papel
desempenhado por setores da mídia, o professor Paulo Fagundes Vizentini,
coordenador do Núcleo de Estratégia e Relações Internacionais da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, considerou inadmissível que “os mesmos que
bombardeiam e ocupam militarmente países soberanos venham agora dar lições de
direitos humanos”.
“Antes era feio não ter opinião, hoje é ideológico, que mais
se parece com fisiológico”, disse Vizentini, defendendo a afirmação do
interesse público e da soberania nacional, e combatendo “os que querem que o
país fique na segunda divisão, desde que sejam o capitão do time”.
O professor sublinhou o papel estratégico e singular
proporcionado pela descoberta do pré-sal, tanto do ponto de vista energético,
como geopolítico, e alertou para a necessidade de que o Brasil tenha os
elementos de dissuasão para impedir que esse imenso patrimônio venha a ser
apropriado militarmente pelos estrangeiros. “Para isso temos de enfrentar os
espíritos fracos e colonizados. O colonialismo é o mais difícil de combater,
porque está dentro da nossa cabeça”, frisou.
Para o secretário de Relações Internacionais do Movimento
dos Trabalhadores Sem Terra, Pedro Bocca, “o fortalecimento dos espaços de
mídia dos movimentos sociais, como a TeleSur, a Alba TV e a TVT, com sua
divulgação em canal aberto, são uma necessidade do momento para o avanço da
própria integração”. “Nesse momento, o investimento do governo é essencial para
combater a desinformação e garantir a efetiva democratização da comunicação e
do país”, concluiu.
Por Leonardo Wexell Severo
Fonte: brasildefato.com.br
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